Um pedacinho da minha alma...

terça-feira, 28 de junho de 2011

Caminho Árduo

Me vejo caminhando com passos certeiros, levemente espaçados pela dificuldade que a areia provoca. Sinto a força elástica de todos os músculos das minhas pernas, eles repuxam cada tendão, tencionam cada centímetro da minha pele.
O vento corta meu rosto, minúsculas partículas rebatem em cada parte do meu corpo, são como pequenas agulhadas superficiais que remetem a dor quase esquecida. Meus pés afundam a cada passo, sinto meus dedos se perdendo em meio a areia e posso sentir pequenas pedras ponte agudas nas pontas de cada dedo, na sola dos meus pés, massageando e torturando a pele já calejada.
Está frio, sinto o ar congelando minhas vias nasais, cortando minha garganta a cada milímetro inspirado e me lembrando friamente de que ainda estou viva.
A noite chega, a visão é comprometida pela ventania vinda do sul, uma névoa arenosa toma conta dos próximos metros, me cubro o máximo possível, me inclino para ganhar força em cada passo, levo minha mão ao rosto no intuito de proteger meus olhos já úmidos e irritados pelo clima.
Ando mais alguns metros e encontro uma fenda em meio as rochas. Entro me esgueirando, a magreza forçada ajuda, me sento e deixo com que a dor tome conta de cada músculo existente, alguns que até mesmo eu desconhecia. Adormeço, o cansaço não permite com que os sonhos se aproximem, quase como se minha mente exausta os expulsassem.
Pouco a pouco a luz invade o que chamaria de uma gruta feita pela erosão, abro os olhos com dificuldade, minhas pálpebras parecem estar coladas, mas aos poucos me acostumo com a dor que cada grão de areia provoca. Sinto uma sensação revigorante ao respirar o que parece ser um novo dia, posso sentir o oxigênio ser transportado para meus pulmões e acordando cada centímetro do meu corpo.
Quando arrisco colocar meu rosto para fora um sorriso elástico surge em meus lábios, o caminho árduo e duro acabou, e finalmente encontrei o que me parece ser o lugar perfeito para terminar essa caminhada.
Corro em meio as pedras, sem dar importância ao sentir cada corte aberto em meus pés, sem sentir a dor provocada por elas, sem nem me lembrar do caminho que até o dia anterior teria me deixado quase sem forças. Pulo na água gelada, cada pedacinho de rocha se descola do meu corpo, o tecido que uso se desprende e cola, quase com um ritmo constante.
Fico flutuando como se pudesse voar, abrindo os braços como se fossem asas, ouvindo o barulho surdo que a água provoca em meus ouvidos.
Não sei bem quanto tempo quero ficar ali, sentindo apenas cada sensação, sei apenas que encontrei, me encontrei.

Um comentário:

=) disse...

Voltou a passar cada detalhe do que escreve de forma a fazer com quem le, sinta tb.
Da agonia ao relaxamento.
Colocaria esse sem dúvidas, ao lado do " o voo".
Bonito e forte.
Com carinho.