Um pedacinho da minha alma...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A imensidão

Vejo uma tela pintada em tons escuros, um azul quase negro, de uma perfeição quase indescritível. Existem pequenos furos nesse tecido plano, uns maiores do que os outros, cada com sua intensidade luminosa, como quando a luz encontra um pequeno espaço para a fuga, e com toda sua força tenta invadir e ultrapassar aquela pequena extremidade.
Quando foco um ponto cego no horizonte começo a perceber que existem pequenos fios brilhantes, quase imperceptíveis a olho nu, eles se desprendem do pequenos furos feitos na imensidão negra. Ergo a cabeça e contemplo o que parecem linhas ligando o céu e a terra, quase como se estivessem sido costurados. A sensação é como se eu estivesse no meio de um grande tecido escuro e dobrado.
A noite não é mais tão ameaçadora quando o silêncio passa a se transformar em uma música oscilante, sem notas, sem regras, apenas a voz do universo se aprofundando nos ouvidos. Eu me deito e simplesmente deixo com que sua música faça parte de mim.
Me sinto como num berço, com movimentos irregulares, mas confortantes. Consigo ouvir tudo o que vem de longe, uma sinfonia mágica, a única coisa que me desperta é o barulho úmido da madeira rangendo sob meu corpo.
O ritmo das ondas adormece meus pensamentos, é como se aquele céu estrelado fosse a extensão da minha mente e agora de fora eu pudesse observar cada momento separadamente, sem a junção de acontecimentos e sem a interferência que alguns sentimentos provocam. Como se cada ponto luminoso no céu fosse um momento da minha vida.
Claramente vejo uns se ligando aos outros, os pontinhos menores são as lembranças mais antigas, alguns deles começam a traçar uma linha dourada, ligando-se a alguns momentos mais recentes, mais brilhantes. Os fios dourados se multiplicam rapidamente, quase não consigo acompanhar, como se todas as respostas viessem a tona, respostas de perguntas que nem mesmo eu pensei em um dia fazer.
Desfocando o olhar eu começo a desvendar uma forma, são os fios dourados, todos os ligamentos feitos por ele se tornam mais nítidos. É lindo, mesmo com alguns pontos faltando. Como se fosse um daqueles desenhos que fazemos quando criança, onde ligamos os pontos, um a um, para que no final ele se transforme em uma figura delicada, e com lápis de cor possamos colori-los a nossa maneira.
Neste acaso ainda faltam alguns pontos, mas mesmo assim consigo enxergar o que está se formando. Meu rosto, um pouco diferente do que estou acostumada, em tons de dourado e o fundo negro que aquele céu desenhou.
Os traços que faltam logo serão preenchidos, quem sabe quando mais alguns acontecimentos me trouxerem respostas, um a um, me transformando no que realmente serei.

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